quinta-feira, 26 de novembro de 2009

F.C.Porto 0-1 Chelsea . Não foi mau


assistência: 38.410 espectadores.

árbitros: Jonas Eriksson (Suécia), Fredrik Nilsson e Mathias Klasenius; Martin Ingvarsson.

FC PORTO: Beto; Sapunaru, Rolando, Bruno Alves «cap» e Alvaro Pereira; Fernando, Belluschi e Raul Meireles; Varela, Falcao e Rodríguez.
Substituições: Varela por Hulk (60m), Belluschi por Guarín (71m) e Sapunaru por Farías (79m).
Não utilizados: Nuno, Valeri, Maicon e Tomás Costa.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

CHELSEA: Cech; Ivanovic, Ricardo Carvalho, John Terry «cap» e Zhirkov; Mikel; Ballack, Deco, Malouda; Anelka e Drogba.
Substituições: Ballack por Essien (68m), Deco por Joe Cole (76m).
Não utilizados: Turnbull, Kalou, Alex e Belletti.
Treinador: Carlo Ancelotti.

disciplina: cartão amarelo a Fernando (50m), Ballack (58m) e Raul Meireles (79m).

golos: Anelka (69m).

Jogo a feijões. Há-de ser assim, de forma bem depreciativa, que alguns se referirão a este jogo da Champions. Ora, logo à partida, de forma implícita, não existem jogos a “feijões” na mais milionária e elitista prova de clubes a nível europeu. Dinheiro. Prestígio. Fama. São factores que, individual ou em conjunto, aferem bem a importância e grandeza da competição. E este Porto-Chelsea já se tornou um jogo de tradição, seguido por milhões, no velho continente.

Desde logo, pelo histórico recente em ambos, marcado de forma indelével pela passagem de um treinador que não deixa ninguém indiferente. José Mourinho une, de forma siamesa, ambos os clubes que fazem do azul a cor do seu equipamento. Para além desse motivo, os confrontos recentes, na referida prova, transformam este duelo luso-britânico num clássico instantâneo.

Mas pronto, temos que sorrir, de forma benevolente e algo paternalista, quando tentarem, os mesmos de sempre, depreciar a partida. Ele é o Lampard, que não veio, ou o Bosingwa, que está lesionado. Ele será a chuva miudinha, que arrefeceu espíritos, ou o vento cortante, que impediu a realização da partida nas melhores condições. Ou o estado da relva, ou a convergência de Saturno e Plutão no mapa astral. Ou outra coisa qualquer, que tudo serve, a mentes mais criativas, para procurar demonstrar que o mais lídimo embaixador do futebol tuga se encontra noutras paragens. Mas não. É aqui, no Dragão, que habita a ÚNICA equipa portuguesa que orgulhosamente serve de embaixador, além-fronteiras, do futebol nacional. A ÚNICA, aliás, que tem dimensão europeia.

Nada que o apito inicial, logo após o fim da melodiosa música que serve de mote a feitos épicos, não afaste do pensamento. É o Porto que lá está, usufruindo e bem do direito de participar, juntamente com os melhores, numa prova que provoca inveja e urticária a tantos outros.

A constituição do onze inicial trouxe uma surpresa. E das grandes. Não me refiro à colocação de Helton na bancada, castigo tremendo para o brasileiro, relegado de um momento para o outro para fora do lote de convocados. A estreia de Beto já era conhecida. Jesualdo, mantendo o habitual 4-3-3, trocou um dos protagonistas ofensivos. E logo quem. O super-herói, Hulk, que cedeu o seu posto ao regressado Varela. Surpreendente? Sim. E não. Sim, porque o brasileiro é uma arma de destruição maciça. Parece conter apenas pólvora seca, esta temporada, mas os seus raides regularmente provocam pânico entre as hostes adversárias e ajudam a criar desequilíbrios. Não, porque o mau momento de forma do agora internacional canarinho justifica amplamente a tomada de decisão do técnico portista.

Varela, regressado de uma lesão, aparece na equipa, depois da titularidade na fatídica derrota em Braga. Ocupando a faixa direita, o antigo jogador do Amadora aportou algo à equipa. Uma maior contenção táctica, permitindo que o meio-campo azul e branco, face ao 4-4-2 adversário, mantivesse um equilíbrio enorme nas tarefas defensivas e de recuperação de bola.

Foi um Porto inteligente, na abordagem da partida, encarando-a com cautelas, face ao poder do opositor, mas não deixando de ter em mente que uma vitória abriria a possibilidade de obtenção do 1º posto no grupo. Com Belluschi a trazer criatividade e fantasia, nas transições ofensivas, o sinal de maior pendor atacante teve sotaque british. Lá na frente, a dupla Drogba e Anelka, extremamente dinâmica, procurava capitalizar o fulgor de outros jogos.

Sapunaru, lateral-direito romeno, sofreu as agruras de apanhar o francês pela frente, facilmente ultrapassado em regulares ocasiões. A coesão defensiva, no entanto, supria as lacunas existentes, permitindo que o perigo não incomodasse o neófito na guarda das redes portistas. Com o grosso da batalha a realizar-se no centro do terreno, o recuo portista era notoriamente estratégico, visando amparar os golpes do adversário e, se possível, efectuar venenosos contra-ataques, apanhando o Chelsea desprevenido.

O momento alto da primeira metade aconteceu, precisamente, num lance desses, marcava o relógio a meia hora jogada. Transição rápida de contra-ataque, com Varela a assumir o protagonismo, conduzindo o esférico até junto da área dos londrinos, endossando depois a bola para o remate pronto de Belluschi. Fora da área, o argentino encheu o pé, de forma sublime, rematando com violência à trave da baliza do gigante Cech. Gorava-se assim, de forma azarada, a melhor ocasião de golo da partida.

Várias ilações podiam ser tiradas ao intervalo. A postura pragmática do Porto, controlando os espaços, tapando os caminhos para a sua baliza, transfigurando bastas vezes o esquema num 4-4-2 quando Varela fechava na direita, impedindo as progressões de Malouda, tinha sido suficiente para emperrar a maquina trituradora londrina.

Pese esse facto, Jesualdo viveria um dilema. Manter a esquematização, aguardando por novo e esporádico lance de desequilibro, ou procurar ser mais assertivo na procura do golo?

O decano treinador optou pela segunda. Efectuou a troca de Varela por Hulk. E sofreu, quase de imediato, o golo que sentenciou o jogo. Existe relação causa/efeito entre a substituição referida e o golo do Chelsea? Parece óbvio que sim. O maior pendor ofensivo de Hulk empurra naturalmente a equipa para um ataque mais desenfreado. Não é coincidência que o lance do golo tenha surgido, precisamente, no flanco anteriormente guardado de forma racional por Varela. Zhirkov e Malouda trabalharam, perante a ausência de pressão, para a finalização mortífera de Anelka.

Parecia o velho lugar-comum da “manta esticada”, destapando um local para cobrir outro. A procura pela vitória – de louvar – custou a coesão táctica existente. A alteração na sincronização do flanco originou um castigo demasiado pesado. O Porto não baixou os braços. Jesualdo mexeu na equipa. E fê-lo bem.

Recuou Fernando para o posto de lateral-direito, posição que o brasileiro já não estranha, encostando Hulk na direita no meio-campo, deixando lá na frente Falcao, acompanhado por Farias. O mais convencional 4-4-2 quase resultava. Mantendo uma racionalidade digna de elogios, a equipa portista procurou sempre o melhor caminho para a obtenção do empate, evitando recorrer ao desespero das bolas bombeadas aleatoriamente para a área. Ele esteve perto. Várias vezes, com o Chelsea encostado às cordas. Foi uma reacção honrosa, mostrando predicados que fazem acreditar num futuro mais risonho.

Análise final: Não existem vitórias injustas. O futebol é terrivelmente simples. Ganha quem marca mais do que o adversário. Sendo esta a regra basilar de toda a sua estrutura, quem ganha fá-lo, por isso, com mérito. E o Chelsea foi engenhoso, na sua obtenção. Uma equipa temível, que funciona como um harmónio, onde cada elemento, de inegável capacidade técnica, sabe o que fazer. Quando fazer. E porque o faz. Felizmente, não existem muitos adversários assim. A mais forte equipa inglesa da actualidade venceu os dois jogos com os pupilos de Jesualdo, mas sempre com enorme dificuldade e pela margem mínima. Será um ténue orgulho afirmá-lo, mas comprova igualmente a capacidade competitiva deste Porto, ao mais alto nível.

Melhor do Porto: Gostei de Belluschi. Pelo menos, enquanto o argentino aguentou, fisicamente. E foi pouco tempo. Ponto prévio. Este compatriota de Lucho é um médio de inegáveis capacidades técnicas. Preciosas, no contexto actual do plantel portista, conferindo habilidades que não existem no lote actual de centro-campistas. Procurou ser o pêndulo, nas transições, participando no colete-de-forças implementado na zona central, asfixiando os médios ingleses, mas mantendo sempre a objectividade de procurar lançar perigosamente os ataques. Varela merece, igualmente, uma palavra elogiosa. Não tanto pelo papel activo que se esperaria nos lances ofensivos, mas pela preciosa ajuda ministrada nas tarefas defensivas. Finalmente, Meireles. O médio, ainda não atingindo a bitola esperada, vem trepando degraus na consolidação do seu jogo. Mais sereno, recuperado fisicamente do desgaste que ostentava, tem aparecido com maior regularidade no apoio à linha ofensiva.

Arbitragem: Nada a apontar, apesar de alguns irritantes exageros, na parte final da partida, pactuando com as teatralizações dos jogadores do Chelsea.

Sem comentários: