quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

F.C.Porto 2-0 Arsenal . E estamos em 1º lugar no grupo



assistência: 37.602 espectadores.

árbitros: Kyros Vassaras (Grécia), Dimitris Bozatzidis e Cristos Gennaios; Michail Koukoulakis.

FC PORTO: Helton; Fucile, Rolando, Bruno Alves e Pedro Emanuel «cap»; Lucho, Fernando e Raul Meireles; Lisandro, Hulk e Rodríguez.
Substituições: Lucho por Tomás Costa (78m), Rodríguez por Mariano (78m) e Hulk por Guarin (87m).
Não utilizados: Nuno, Stepanov, Lino e Sektioui.
Treinador: Jesualdo Ferreira.

ARSENAL: Almunia «cap»; Eboué, Gallas, Djourou e Silvestre; Ramsey, Denilson, Song e Diaby; Vela e Bendtner.
Substituições: Ramsey por Wilshere (59m), Diaby por Gibbs (59m) e Song por Randall (78m).
Não utilizados: Fabianski, Hoyte, Mérida e Simpson.
Treinador: Arsène Wenger.

disciplina: cartão amarelo a Lucho (50m) e Eboué (51m).

golos: Bruno Alves (39m) e Lisandro (54m).


A feijões. Este Porto-Arsenal, pelo apuramento atempado de ambas as equipas, não tinha nenhuma carga emotiva associada. Sim, os mais puristas dir-me-ão que haveria. A vingança. Impressa a fogo, na mente de todos os apaniguados portistas, ainda e sempre aquela tenebrosa noite em Londres. Um Arsenal galáctico, humilhando a seu bel-prazer uns rapazes vestidos com as cores portistas.

Se há algo que aprendi há muito, é que não existe vingança no futebol. Os factos são imutáveis. Perdemos 4-0 na capital inglesa. Ponto. Uma vitória, hoje, no Dragão, nunca mudaria isso.

Não estava nada então em jogo, nesta Liga dos Campeões que ainda não entrou na sua fase decisiva? Estava. Dinheiro. Muito. Prestígio. Algum. E o 1º lugar do grupo.

O Arsenal, mais preocupado com outras lutas, deu descanso a alguns titulares. Importantes. Fabregas, o miúdo-maravilha de Espanha. Adebayor, o orgulho do Togo, avançado mortífero como poucos. Van Persie, cuja juventude esconde a perigosidade do seu futebol rectilíneo. Walcott, a nossa besta negra, a contas com uma lesão.

Nunca escondi que sou um fã da Premiere League. Pela competitividade. Pelo sentido notável de espectáculo. Pelo entusiasmo contagiante de um público que nunca regateia apoio às suas cores. E, desde há muito tempo, os gunners de Londres, sob a batuta de Arsene Wenger, assumiram no seu código genético algo mais do que o desiderato da conquista dos 3 pontos. Jogar bem. Um sentido de diversão, aliado a uma mecanização que os torna uma equipa excitante, na forma como deambulam pelo relvado.

Foi pois, sem surpresas, que o Dragão assistiu a um Arsenal descomplexado, com personalidade própria, capaz de manter a bitola exibicional elevada, criando uma teia que tolhia os movimentos do meio-campo azul e branco.

Os pupilos de Jesualdo, com três retoques na equipa principal, relativamente ao jogo de Setúbal [entrada de Pedro Emanuel para o lado esquerdo da defesa, e de Lucho e Meireles no regresso às posições no centro], sentiram enormes dificuldades, nos minutos iniciais, para se libertarem do espartilho táctico tecido laboriosamente por Wenger.

Com Silvestre adaptado ao lado esquerdo da defesa, mas apoiando de forma regular os movimentos ofensivos da equipa inglesa, os gunners beneficiavam da enorme mobilidade de Ramsey [atenção a este miúdo, contratado esta temporada por uma verba quase obscena, atendendo à idade do petiz], de Vela e de Bendtner para jogarem paulatinamente no último terço do terreno.

O Porto, sem posse de bola, não se desconjuntou. Apercebeu-se que, com os seus tradicionais homens da frente, poderia aproveitar a aparente arrogância britânica. Começou a incomodar, através das diagonais habituais de Lisandro e Hulk, mas dando sempre a ideia de que privilegiava a solidez defensiva, defendendo bem próximo da sua área, incapaz de efectuar uma pressão que lhe permitisse fazer aquilo que mais gosta: roubar bolas e lançar contra-ataques velozes e letais.

E assim, o público presente na gélida noite da Invicta foi assistindo a um jogo interessante, mas sem ocasiões de golo. O Arsenal, tendo a bola, não as criava. O Porto, sem ela, vivia apenas dos comuns raides de Hulk, esticando o jogo até à área de Almunia. Com Lucho, Meireles e Fernando afadigados no acompanhamento dos movimentos de Denilson [produto Made in Brasil, na mesma Selecção de Sub-17 onde Anderson brilhou], de Song e Eboué, os dois sistemas de jogo, antagónicos nas concepções, encaixavam como um puzzle bem montado.

Quando assim é, convencionou-se afirmar que apenas um facto aleatório pode modificar a face do jogo. Ele aconteceu, aos 39 minutos. Canto, do lado direito, cobrado exemplarmente por Raul Meireles. E, como acontece ciclicamente, Bruno Alves a aparecer, de forma imperial, cabeceando com mestria. Estava inaugurado o marcador. Um golo destinado a alterar radicalmente o tabuleiro do jogo. Como comprovou a segunda metade.

Aparentemente, no regresso das cabines, tudo estava idêntico. Aparentemente. O Arsenal, com a falsa sensação de ser o dono e senhor da partida, goleando na posse de bola. E o Porto defendendo com afinco. Mas algo tinha sido modificado. A agressividade. A pressão. A velocidade na transição defesa/ataque.

Três mudanças. Suficientes para dinamitarem totalmente a dinâmica da partida. O Porto foi quase perfeito na adopção da táctica. Lisandro, um predador à solta, neste tipo de futebol, mostrou qual era o caminho. O da violação das redes adversárias. Um soberbo passe de Fernando, isolando o argentino na direita e este, com uma frieza glacial, a fuzilar Almunia. Estava feito o segundo, com Jesualdo a sorrir, ao de leve, no banco.

O Porto tinha, aos 55 minutos, o jogo ganho, o grupo vencido e o adversário aos seus pés. E é aqui que entra o quase perfeito. O Arsenal ficou à mercê. Inteiramente. Preso naquele limbo que o obrigava a atacar, minimizando os estragos, sabendo de antemão que abriria espaços convidativos junto da sua área. Mas na matriz de jogo dos ingleses apenas a palavra ataque aparece sublinhada. O Porto foi então coleccionando oportunidades soberanas de golo. Uma. Duas. Três. Quatro. Adiando o KO. Desperdiçando a oportunidade de humilhação.

Rodriguez, por duas vezes, pareceu um demónio à solta. Uma verdadeira seta apontada à baliza, fazendo alarde de uma velocidade supersónica, pecando no capítulo final: o da finalização. Desenhos geométricos de enorme beleza, estilhaçados no último remate.

Foi pena. Apenas por isso. Um resultado mais volumoso seria, indubitavelmente, mais prestigiante por essa Europa fora. Mas foi o suficiente para terminar a prova com um saldo francamente positivo. 12 pontos. 4 vitórias. 1º lugar no grupo. Chega, não vos parece?

Sem embandeirar em arco, com nova vitória, existe a sensação de dever cumprido. Não com brilhantismo, mas com pragmatismo. Continua actual a máxima de Jesualdo. “Não somos os melhores do Mundo. Mas também não somos os piores”. Podemos [e devemos] fazer mossa, nos oitavos. Sem medos. Sem tolhimentos morais. Sem reservas mentais.

Melhor do Porto: Difícil escolha. Hulk esteve mais complicativo na resolução dos lances, primando por alguma ingenuidade na definição das jogadas. Rodriguez compilou no mesmo manual as suas duas faces. Inconformado, agressivo, dinamitou os flancos, cumprindo na perfeição o papel que Jesualdo lhe destinou. Mas falhou. Redondamente. Duas oportunidades supremas, desperdiçadas ingloriamente. Lucho, melhor fisicamente, aparecei amiúde na zona de finalização, tendo nos pés um ensejo flagrante. Recuperado animicamente, foi um apoio importante na luta no meio-campo. Lisandro, como peixe na água, mostrou que mantém intactas as suas qualidades, apesar da novela da renovação do contrato. Franco-atirador, deixado para trás nas linhas inimigas, semeou o pânico por variadas vezes. Foi feliz numa. De forma merecida. Perfeito na leitura do jogo, merece o título de MVP da partida.

Arbitragem: Sem mácula. Nunca quis ser protagonista, deixando o jogo fluir, intervindo apenas quando necessário.

***
Arsene Wenger tem um aspecto sisudo. Alto, magro, de carnes secas, ostenta um ar sempre fleumático, confundível com um nativo das Ilhas Britânicas. Profissional, destila futebol por todos os poros. Não recebe, de ninguém, lições sobre a arte de bem jogar. Mas, mesmo assim, vive amargo. Falta-lhe algo. Que lhe foge, ano após ano. A Champions, tão brilhante, tão bela, tão sedutora. Já se imaginou, inúmeras vezes, a erguê-la. A sentir o seu peso. A ver a sua imagem reflectida no metal. Por vezes fecha os olhos, sonhando com o dia em que a terá na sua posse. E ri, incapaz de discernir a ténue linha que separa a fantasia da realidade. Hoje, no Dragão, despertou desse “sono da ilusão”. Bateu estrepitosamente com os pés na terra. Acorda, Arsene, nunca a terás nas tuas mãos. E os “olés” de hoje funcionaram, mais do que tudo, como aguilhões cruéis nessa tua bonomia francesa.

Possiveis adversários para o sorteio dos oitavos-de-final no dia 19Dez08:
Inter de Milão, Lyon, Chelsea, Villareal, Real Madrid ou Atlético de Madrid.

1 comentário:

dragao vila pouca disse...

Vitória justa, indiscutível, que podia ter sido por números superiores.

Foi um bonito espectáculo com duas formas e dois modelos de jogo, completamente distintos.
Na primeira-parte, o modelo do Arsenal, baseado na posse de bola, na recepção em movimento, na qualidade do passe e que está tão sistematizado, que independentemente dos jogadores, funciona sempre, levou vantagem e o resultado - 1-0 para o F.C.Porto - era injusto para os ingleses.
Na segunda-parte, impôs-se o modelo do F.C.Porto, baseado nas transições rápidas -contra-ataque.
Foi melhor o Tricampeão português, na segunda-metade, que o Arsenal na primeira e com melhor finalização, mais tranquilidade e melhor qualidade, no último passe
- como me lembrei do passe precise do Robson - podia perfeitamente, ter vingado o resultado do Emirates Stadium.
Para a melhoria significativa do F.C.Porto, contribuiu e muito, a extraordinária partida de Fernando no segundo-tempo. O jovem trinco brasileiro - bem a desarmar, mas muito mal a passar, nos primeiros 45 minutos -, que tinha sido um dos elos mais fracos e contribuído mais, para o frouxo primeiro tempo, como que sofreu uma metamorfose - isso demonstra caracter, raça, de quem não se deixa abater - embalou para uma exibição notável, carregou a equipa às costas, melhorou a qualidade do passe e foi para mim, o grande responsável pelo magnífico segundo-tempo portista.
Agora no sorteio de 19, espero que não nos saia o Chelsea, R.Madrid ou Inter. Os outros é 50/50.
Um abraço